TERMINOLOGIA SOBRE DEFICIÊNCIA NA ERA DA INCLUSÃO

07/01/2012 15:25

A construção de uma verdadeira sociedade inclusiva passa também pelo cuidado com a

linguagem. Na linguagem se expressa, voluntariamente ou involuntariamente, o respeito ou

a discriminação em relação às pessoas com deficiências. Com o objetivo de subsidiar o

trabalho de jornalistas e profissionais de educação que necessitam falar ou escrever sobre

assuntos de pessoas com deficiência no seu dia-a-adia, a seguir são apresentadas 59 palavras

ou expressões incorretas acompanhadas de comentários e dos equivalentes termos corretos.

Ouvimos e/ou lemos freqüentemente esses termos incorretos em livros, revistas, jornais,

programas de televisão e de rádio, apostilas, reuniões, palestras e aulas.

A numeração aplicada a cada expressão incorreta serve para direcionar o leitor de um

termo para outro quando um mesmo comentário se aplicar a diferentes expressões (ou

pertinentes entre si), evitando-se desta forma a repetição da informação.

1.

 

adolescente normal

Desejando referir-se a um adolescente (uma criança ou um adulto) que não possua uma

deficiência, muitas pessoas usam as expressões

adolescente normal, criança normal e adulto

normal

 

. Isto acontecia muito no passado, quando a desinformação e o preconceito a respeito de

pessoas com deficiência eram de tamanha magnitude que a sociedade acreditava na

normalidade

das pessoas sem deficiência. Esta crença fundamentava-se na idéia de que era

anormal a pessoa

que tivesse uma deficiência. A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável e

ultrapassado. TERMO CORRETO:

adolescente (criança, adulto) sem deficiência ou, ainda,

adolescente

 

(criança, adulto) não-deficiente.

2.

 

aleijado; defeituoso; incapacitado; inválido

Estes termos eram utilizados com freqüência até a década de 80. A partir de 1981, por

influência do Ano Internacional das Pessoas Deficientes, começa-se a escrever e falar pela primeira

vez a expressão

pessoa deficiente. O acréscimo da palavra pessoa, passando o vocábulo deficiente

para a função de adjetivo, foi uma grande novidade na época. No início, houve reações de surpresa

e espanto diante da palavra

pessoa: “Puxa, os deficientes são pessoas!?” Aos poucos, entrou em uso

a expressão

pessoa portadora de deficiência, freqüentemente reduzida para portadores de

deficiência

 

. Por volta da metade da década de 90, entrou em uso a expressão pessoas com

deficiência

 

, que permanece até os dias de hoje. Ver comentários ao item 47.

3. “

 

apesar de deficiente, ele é um ótimo aluno”

Na frase acima há um preconceito embutido: ‘

A pessoa com deficiência não pode ser um ótimo

aluno

 

’. FRASE CORRETA: “ele tem deficiência e é um ótimo aluno”

4. “

 

aquela criança não é inteligente”

Todas as pessoas são inteligentes, segundo a Teoria das Inteligências Múltiplas. Até o presente,

foi comprovada a existência de oito tipos de inteligência (lógico-matemática, verbal-lingüística,

interpessoal, intrapessoal, musical, naturalista, corporal-cinestésica e visual-espacial). FRASE

CORRETA: “

aquela criança é menos desenvolvida na inteligência [por ex.] lógico-matemática”

5.

 

cadeira de rodas elétrica

Trata-se de uma cadeira de rodas equipada com um motor. TERMO CORRETO:

cadeira de rodas

motorizada

6. ceguinho

O diminutivo

ceguinho denota que o cego não é tido como uma pessoa completa. A rigor,

diferencia-se entre

deficiência visual parcial (baixa visão ou visão subnormal) e cegueira (quando a

deficiência visual é total). TERMOS CORRETOS:

cego; pessoa cega; pessoa com deficiência

visual; deficiente visual.

7. classe normal

TERMOS CORRETOS:

classe comum; classe regular. No futuro, quando todas as escolas se tornarem

inclusivas, bastará o uso da palavra

 

classe sem adjetivá-la. Ver os itens 25 e 51.

8. criança excepcional

TERMO CORRETO:

criança com deficiência mental. Excepcionais foi o termo utilizado nas décadas de 50,

60 e 70 para designar pessoas deficientes mentais. Com o surgimento de estudos e práticas educacionais na área de altas

habilidades ou talentos extraordinários nas décadas de 80 e 90, o termo

 

excepcionais passou a referir-se a pessoas com

inteligência lógica-matemática abaixo da média (pessoas com deficiência mental) e a pessoas com inteligências

múltiplas acima da média (pessoas superdotadas ou com altas habilidades e gênios).

9. defeituoso físico

Defeituoso, aleijado

 

e inválido são palavras muito antigas e eram utilizadas com freqüência até o final da

década de 70. O termo

 

deficiente, quando usado como substantivo (por ex., o deficiente físico), está caindo em desuso.

TERMO CORRETO:

 

pessoa com deficiência física

10. deficiências físicas

 

 

(como nome genérico englobando todos os tipos de deficiência).

TERMO CORRETO:

deficiências (como nome genérico, sem especificar o tipo, mas referindose

a todos os tipos). Alguns profissionais não-pertencentes ao campo da reabilitação acreditam que

as deficiências físicas são divididas em motoras, visuais, auditivas e mentais. Para eles,

deficientes

físicos

 

são todas as pessoas que têm deficiência de qualquer tipo.

11. deficientes físicos

 

 

(referindo-se a pessoas com qualquer tipo de deficiência).

TERMO CORRETO:

pessoas com deficiência (sem especificar o tipo de deficiência). Ver

comentário do item 10.

12. deficiência mental leve, moderada, severa, profunda

TERMO CORRETO:

deficiência mental (sem especificar nível de comprometimento). A nova

classificação da deficiência mental, baseada no conceito publicado em 1992 pela Associação

Americana de Deficiência Mental, considera a deficiência mental não mais como um traço absoluto

da pessoa que a tem e sim como um atributo que interage com o seu meio ambiente físico e

humano, que por sua vez deve adaptar-se às necessidades especiais dessa pessoa, provendo-lhe o

apoio

 

intermitente, limitado, extensivo ou permanente de que ela necessita para funcionar em 10

áreas de

habilidades adaptativas: comunicação, autocuidado, habilidades sociais, vida familiar,

uso comunitário, autonomia, saúde e segurança, funcionalidade acadêmica, lazer e trabalho.

13. deficiente mental

 

 

(referindo-se à pessoa com transtorno mental)

TERMOS CORRETOS:

pessoa com doença mental, pessoa com transtorno mental, paciente

psiquiátrico

14. doente mental

 

 

(referindo-se à pessoa com déficit intelectual)

TERMOS CORRETOS:

pessoa com deficiência mental, pessoa deficiente mental. O termo

deficiente

 

, quando usado como substantivo (por ex.: o deficiente físico, o deficiente mental), tende a

desaparecer, exceto em títulos de matérias jornalísticas.

15. “

 

ela é cega mas mora sozinha”

Na frase acima há um preconceito embutido: ‘

Todo cego não é capaz de morar sozinho’.

FRASE CORRETA: “

ela é cega e mora sozinha”

16. “

 

ela é retardada mental mas é uma atleta excepcional”

Na frase acima há um preconceito embutido: ‘

Toda pessoa com deficiência mental não tem

capacidade para ser atleta

 

’. FRASE CORRETA: “ela tem deficiência mental e se destaca como

atleta”

17. “

 

ela é surda

[ou cega] mas não é retardada mental”

A frase acima contém um preconceito: ‘

Todo surdo ou cego tem retardo mental’. Retardada

mental, retardamento mental

 

e retardo mental são termos do passado. FRASE CORRETA: “ela é

surda

 

[ou cega] e não tem deficiência mental”

18. “

 

ela foi vítima de paralisia infantil”

A poliomielite já ocorreu nesta pessoa (por ex., ‘

ela teve pólio’). Enquanto a pessoa estiver

viva, ela tem seqüela de poliomielite. A palavra

vítima provoca sentimento de piedade. FRASE

CORRETA: “

ela teve [flexão no passado] paralisia infantil” e/ou “ela tem [flexão no presente]

seqüela de paralisia infantil”

19. “

 

ela teve paralisia cerebral”

(referindo-se a uma pessoa no presente)

A paralisa cerebral permanece com a pessoa por toda a vida. FRASE CORRETA:

ela tem

paralisia cerebral

20. “

 

ele atravessou a fronteira da normalidade quando sofreu um acidente de

carro e ficou deficiente”

A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável. A palavra

sofrer coloca a

pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos de piedade. FRASE CORRETA: “

ele

teve um acidente de carro que o deixou com uma deficiência”

21. “

 

ela foi vítima da pólio”

A palavra

vítima provoca sentimento de piedade. TERMOS CORRETOS: poliomielite;

paralisia infantil

 

e pólio. FC: ela teve pólio

22. “

 

ele é surdo-cego”

GRAFIA CORRETA: “

ele é surdocego”. Também podemos dizer ou escrever: “ele tem

surdocegueira”

 

Ver o item 55.

23. “

 

ele manca com bengala nas axilas”

FRASE CORRETA: “

ele anda com muletas axilares”. No contexto coloquial, é correto o uso

do termo

muletante para se referir a uma pessoa que anda apoiada em muletas.

24. “

 

ela sofre de paraplegia”

[ou de paralisia cerebral ou de seqüela de poliomielite]

A palavra

sofrer coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos de

piedade. FRASE CORRETA: “

ela tem paraplegia” [ou paralisia cerebral ou seqüela de poliomielite]

25. escola normal

No futuro, quando todas as escolas se tornarem inclusivas, bastará o uso da palavra

escola sem

adjetivá-la. TERMOS CORRETOS:

escola comum; escola regular. Ver o item 7 e 51.

26. “

 

esta família carrega a cruz de ter um filho deficiente”

Nesta frase há um estigma embutido: ‘

Filho deficiente é um peso morto para a família’.

FRASE CORRETA: “

esta família tem um filho com deficiência”

27. “

 

infelizmente, meu primeiro filho é deficiente; mas o segundo é normal”

A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável, ultrapassado. E a palavra

infelizmente

 

reflete o que a mãe pensa da deficiência do primeiro filho: ‘uma coisa ruim’. FRASE

CORRETA: “

tenho dois filhos: o primeiro tem deficiência e o segundo não tem”

28. intérprete do LIBRAS

TERMO CORRETO:

intérprete da Libras (ou de Libras). Libras é sigla de Língua de Sinais

Brasileira. “Libras é um termo consagrado pela comunidade surda brasileira, e com o qual ela se identifica. Ele é

consagrado pela tradição e é extremamente querido por ela. A manutenção deste termo indica nosso profundo respeito

para com as tradições deste povo a quem desejamos ajudar e promover, tanto por razões humanitárias quanto de

consciência social e cidadania. Entretanto, no índice lingüístico internacional os idiomas naturais de todos os povos do

planeta recebem uma sigla de três letras como, por exemplo, ASL (

 

American Sign Language). Então será necessário

chegar a uma outra sigla. Tal preocupação ainda não parece ter chegado na esfera do Brasil”, segundo CAPOVILLA

(comunicação pessoal).

29. inválido

 

 

(referindo-se a uma pessoa)

A palavra

inválido significa sem valor. Assim eram consideradas as pessoas com deficiência

desde a Antiguidade até o final da Segunda Guerra Mundial. TERMO CORRETO:

pessoa com

deficiência

30. lepra; leproso; doente de lepra

TERMOS CORRETOS:

hanseníase; pessoa com hanseníase; doente de hanseníase. Prefira o

termo

a pessoa com hanseníase ao o hanseniano. A lei federal nº 9.010, de 29-3-95, proíbe a

utilização do termo

lepra e seus derivados, na linguagem empregada nos documentos oficiais.

Alguns dos termos derivados e suas respectivas versões oficiais são: leprologia (hansenologia),

leprologista (hansenologista), leprosário ou leprocômio (hospital de dermatologia), lepra

lepromatosa (hanseníase virchoviana), lepra tuberculóide (hanseníase tuberculóide), lepra dimorfa

(hanseníase dimorfa), lepromina (antígeno de Mitsuda), lepra indeterminada (hanseníase

indeterminada). A palavra

hanseníase deve ser pronunciada com o h mudo [como em haras, haste,

harpa

 

]. Mas, pronuncia-se o nome Hansen (do médico e botânico norueguês Armauer Gerhard

Hansen) com o

h aspirado.

31. LIBRAS - Linguagem Brasileira de Sinais

GRAFIA CORRETA:

Libras. TERMO CORRETO: Língua de Sinais Brasileira. Trata-se de

uma língua e não de uma linguagem. segundo CAPOVILLA [comunicação pessoal], “Língua de Sinais Brasileira é

preferível a Língua Brasileira de Sinais por uma série imensa de razões. Uma das mais importantes é que Língua de

Sinais é uma unidade, que se refere a uma modalidade lingüística quiroarticulatória-visual e não oroarticulatóriaauditiva.

Assim, há Língua de Sinais Brasileira. porque é a língua de sinais desenvolvida e empregada pela comunidade

surda brasileira. Não existe uma Língua Brasileira, de sinais ou falada”.

32. língua dos sinais

TERMO CORRETO:

língua de sinais. Trata-se de uma língua viva e, por isso, novos sinais sempre surgirão.

A quantidade total de sinais não pode ser definitiva.

33. linguagem de sinais

TERMO CORRETO:

língua de sinais. A comunicação sinalizada dos e com os surdos constitui um língua e

não uma linguagem. Já a comunicação por gestos, envolvendo ou não pessoas surdas, constitui uma linguagem gestual.

Uma outra aplicação do conceito de linguagem se refere ao que as posturas e atitudes humanas comunicam nãoverbalmente,

conhecido como a linguagem corporal.

34. Louis Braile

GRAFIA CORRETA:

Louis Braille. O criador do sistema de escrita e impressão para cegos foi

o educador francês Louis Braille (1809-1852), que era cego.

35. mongolóide; mongol

TERMOS CORRETOS:

pessoa com síndrome de Down, criança com Down, uma criança

Down.

 

As palavras mongol e mongolóide refletem o preconceito racial da comunidade científica do

século 19. Em 1959, os franceses descobriram que a síndrome de Down era um acidente genético.

O termo

Down vem de John Langdon Down, nome do médico inglês que identificou a síndrome em

1866. “A síndrome de Down é uma das anomalias cromossômicas mais freqüentes encontradas e,

apesar disso, continua envolvida em idéias errôneas... Um dos momentos mais importantes no

processo de adaptação da família que tem uma criança com síndrome de Down é aquele em que o

diagnóstico é comunicado aos pais, pois esse momento pode ter grande influência em sua reação

posterior.” (MUSTACCHI, 2000, p. 880)

36. mudinho

Quando se refere ao surdo, a palavra

mudo não corresponde à realidade dessa pessoa. O

diminutivo

mudinho denota que o surdo não é tido como uma pessoa completa. TERMOS

CORRETOS:

surdo; pessoa surda; deficiente auditivo; pessoa com deficiência auditiva. Ver o item

56.

37. necessidades educativas especiais

TERMO CORRETO:

necessidades educacionais especiais. A palavra educativo significa algo que educa.

Ora, necessidades não educam; elas são educacionais, ou seja, concernentes à educação (SASSAKI, 1999). O termo

necessidades educacionais especiais

 

 

foi adotado pelo Conselho Nacional de Educação (Resolução nº 2, de 11-9-01,

com base no Parecer nº 17/2001, homologado em 15-8-01).

38. o epilético

TERMOS CORRETOS

: a pessoa com epilepsia, a pessoa que tem epilepsia. Evite fazer a

pessoa inteira parecer deficiente.

39. o incapacitado

TERMO CORRETO

: a pessoa com deficiência. A palavra incapacitado é muito antiga e era

utilizada com freqüência até a década de 80.

40. o paralisado cerebral

TERMO CORRETO:

a pessoa com paralisia cerebral. Prefira sempre destacar a pessoa em

vez de fazer a pessoa inteira parecer deficiente.

41. “

 

paralisia cerebral é uma doença”

FRASE CORRETA: “

paralisia cerebral é uma condição”. Muitas pessoas confundem doença

com deficiência.

42. pessoa normal

TERMOS CORRETOS:

pessoa sem deficiência; pessoa não-deficiente. A normalidade, em relação a

pessoas, é um conceito questionável e ultrapassado.

43. pessoa presa

 

 

(confinada, condenada) a uma cadeira de rodas

TERMOS CORRETOS:

pessoa em cadeira de rodas; pessoa que anda em cadeira de rodas;

pessoa que usa uma cadeira de rodas.

 

Os termos presa, confinada e condenada provocam

sentimentos de piedade. No contexto coloquial, é correto o uso dos termos

cadeirante e chumbado.

44. pessoas ditas deficientes

TERMO CORRETO:

pessoas com deficiência. A palavra ditas, neste caso, funciona como

eufemismo para negar ou suavizar a deficiência, o que é preconceituoso.

45. pessoas ditas normais

TERMOS CORRETOS:

pessoas sem deficiência; pessoas não-deficientes. Neste caso, o

termo

ditas é utilizado para contestar a normalidade das pessoas, o que se torna redundante nos dias

de hoje.

46. pessoa surda-muda

GRAFIA CORRETA:

pessoa surda ou, dependendo do caso, pessoa com deficiência auditiva. Quando se

refere ao surdo, a palavra

 

mudo não corresponde à realidade dessa pessoa. A rigor, diferencia-se entre deficiência

auditiva parcial

 

 

(quando há resíduo auditivo) e surdez (quando a deficiência auditiva é total). Ver item 57.

47. portador de deficiência

TERMO CORRETO:

pessoa com deficiência. No Brasil, tornou-se bastante popular, acentuadamente entre

1986 e 1996, o uso do termo

 

portador de deficiência (e suas flexões no feminino e no plural). Pessoas com deficiência

vêm ponderando que elas não portam deficiência; que a deficiência que elas têm não é como coisas que às vezes

portamos e às vezes não portamos (por exemplo, um documento de identidade, um guarda-chuva). O termo preferido

passou a ser

 

pessoa com deficiência. Ver comentários aos itens 2 e 48.

48. PPD’s

GRAFIA CORRETA:

PPDs. Não se usa apóstrofo para designar o plural de siglas. A mesma regra vale para

siglas como ONGs (e não ONG’s). No Brasil, tornou-se bastante popular, acentuadamente entre 1986 e 1996, o uso do

termo

 

pessoas portadoras de deficiência. Hoje, o termo preferido passou a ser pessoas com deficiência, motivando o

desuso da sigla

 

PPDs. Ver o item 47.

49. quadriplegia; quadriparesia

TERMOS CORRETOS

: tetraplegia; tetraparesia. No Brasil, o elemento morfológico tetra

tornou-se mais utilizado que o

quadri. Ao se referir à pessoa, prefira o termo pessoa com

tetraplegia

 

(ou tetraparesia) no lugar de o tetraplégico ou o tetraparético.

50. retardo mental, retardamento mental

TERMO CORRETO:

deficiência mental. São pejorativos os termos retardado mental, pessoa

com retardo mental, portador de retardamento mental

 

etc. Ver comentários ao item 12.

51. sala de aula normal

TERMO CORRETO:

sala de aula comum. Quando todas as escolas forem inclusivas, bastará o termo sala

de aula

 

 

sem adjetivá-lo. Ver os itens 7 e 25.

52. sistema inventado por Braile

GRAFIA CORRETA:

sistema inventado por Braille. O nome Braille (de Louis Braille, inventor do

sistema de escrita e impressão para cegos) se escreve com dois

 

l (éles). Braille nasceu em 1809 e morreu aos 43 anos de

idade.

53. sistema Braille

GRAFIA CORRRETA:

sistema braile. Conforme MARTINS (1990), grafa-se Braille somente quando se

referir ao educador Louis Braille. Por ex.: ‘

 

A casa onde Braille passou a infância (...)’. Nos demais casos, devemos

grafar: [a]

 

braile (máquina braile, relógio braile, dispositivo eletrônico braile, sistema braile, biblioteca braile etc.) ou

[b]

 

em braile (escrita em braile, cardápio em braile, placa metálica em braile, livro em braile, jornal em braile, texto em

braile etc.). Ver o item 58.

54. “

 

sofreu um acidente e ficou incapacitado”

FRASE CORRETA: “

teve um acidente e ficou deficiente”. A palavra sofrer coloca a pessoa

em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos de piedade.

55. surdez-cegueira

GRAFIA CORRETA:

surdocegueira. É um dos tipos de deficiência múltipla. Ver o item 22.

56. surdinho

TERMOS CORRETOS:

surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. O diminutivo

surdinho

 

denota que o surdo não é tido como uma pessoa completa. Os próprios cegos gostam de

ser chamados

cegos e os surdos de surdos, embora eles não descartem os termos pessoas cegas e

pessoas surdas.

 

Ver o item 36.

57. surdo-mudo

GRAFIAS CORRETAS:

surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. Quando se

refere ao surdo, a palavra

mudo não corresponde à realidade dessa pessoa. A rigor, diferencia-se

entre

deficiência auditiva parcial (quando há resíduo auditivo) e surdez (quando a deficiência

auditiva é total). Evite usar a expressão

o deficiente auditivo. Ver o item 46.

58. texto

 

 

(ou escrita, livro, jornal, cardápio, placa metálica) em Braille

TERMOS CORRETOS:

texto em braile; escrita em braile; livro em braile; jornal em braile; cardápio em

braile; placa metálica em braile.

 

 

Ver comentários ao item 53.

59. visão sub-normal

GRAFIA CORRETA:

visão subnormal. TERMO CORRETO: baixa visão. É preferível baixa visão a visão

subnormal.

 

 

A rigor, diferencia-se entre deficiência visual parcial (baixa visão) e cegueira (quando a deficiência visual é

total).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, Celso.

A construção do afeto: Como estimular as múltiplas inteligências de seus filhos.

São Paulo: Augustus, 2000, 157 p.

_____.

Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. Petrópolis, 1999, 300 p.

_____.

As múltiplas inteligências e seus estímulos. Campinas: Papirus, 1998, 141 p.

CAPOVILLA, Fernando. Comunicação pessoal por e-mail. em 6 jun. 2001. Para maiores detalhes,

consultar Capovilla & Raphael (2001).

CAPOVILLA, F. C., & RAPHAEL, W. D.

Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da Língua

de Sinais Brasileira

 

. São Paulo: Edusp, 2001 (dois volumes).

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO/CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Resolução n



2, de 11-9-01, e Parecer n

 

17, de 3-7-01.

GARDNER, Howard.

Inteligência: Um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, 347

p.

GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Identificando o aluno com deficiência mental:

Critérios e parâmetros

 

. Rio de Janeiro: Coordenação de Educação Especial, s/d (c. 2001)

MARTINS, Eduardo.

Manual de redação e estilo.São Paulo: O Estado de S. Paulo, 1990, p. 313.

MUSTACCHI, Zan. “Síndrome de Down”. In: MUSTACCHI, Zan & PERES, Sergio.

Genética

baseada em evidências: Síndromes e heranças

 

. São Paulo: CID Editora, 2000.

SASSAKI, Romeu Kazumi.

Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. 5.ed. Rio de Janeiro:

WVA, 2003.

_____. Como chamar as pessoas que têm deficiência. In: SASSAKI, R.K.

Vida independente;

História, movimento, liderança, conceito, filosofia e fundamentos.

 

São Paulo: RNR, 2003, p.

12-16.

_____. Inteligências múltiplas na educação inclusiva. São Paulo, 2001 (apostila de curso)

_____. Vocabulário usado pela mídia: O certo e o errado. Recife, 2000 (apostila de curso).

_____. A educação especial e a leitura para o mundo: A mídia. Campinas, 1997 (apostila de

palestra).

VOCÊ diz Mongolóide ou Mongol. Nós dizemos Síndrome de Down. Seus amigos preferem chamálo

de Bruno

 

. Folheto do Projeto Down - Centro de Informação e Pesquisa da Síndrome de Down. São Paulo, s/d.

Em todas as épocas e localidades, a pergunta que não quer calar-se tem sido

esta, com alguma variação: “Qual é o termo correto - portador de deficiência,

pessoa portadora de deficiência ou portador de necessidades especiais?”

Responder esta pergunta tão simples é simplesmente trabalhoso, por incrível

que possa parecer.

Comecemos por deixar bem claro que jamais houve ou haverá um único termo

correto, válido definitivamente em todos os tempos e espaços, ou seja,

latitudinal e longitudinalmente. A razão disto reside no fato de que a cada

época são utilizados termos cujo significado seja compatível com os valores

vigentes em cada sociedade enquanto esta evolui em seu relacionamento com

as pessoas que possuem este ou aquele tipo de deficiência.

Percorramos, mesmo que superficialmente, a trajetória dos termos utilizados

ao longo da história da atenção às pessoas com deficiência, no Brasil.

ÉPOCA TERMOS E SIGNIFICADOS VALOR DA PESSOA

No começo da

história, durante

séculos.

Romances, nomes de

instituições, leis, mídia e

outros meios

mencionavam “os

inválidos”. Exemplos: “A

reabilitação profissional

 

os inválidos”. O termo

significava “indivíduos sem

valor”. Em pleno século 20,

ainda se utilizava este termo,

embora já sem nenhum sentido

pejorativo.

Outro exemplo:

“Inválidos insatisfeitos com lei

relativa aos ambulantes” (Diário

Aquele que tinha deficiência

era tido como socialmente

inútil, um peso morto para a

sociedade, um fardo para a

família, alguém sem valor

profissional.

Outros exemplos:

“Servidor inválido pode

voltar” (Folha de S. Paulo,

20/7/82).

visa a proporcionar aos

beneficiários

inválidos ...” (Decreto

federal nº 60.501, de

14/3/67, dando nova

redação ao Decreto nº

48.959-A, de 19/9/60).

Popular, 21/4/76). “Os cegos e o inválido”

(IstoÉ, 7/7/99).

Século 20 até +-

1960

 

 

.

 

Derivativo para

incapacitados”

(Shopping News, Coluna

Radioamadorismo,

1973).

“Escolas para crianças

incapazes” (Shopping

News, 13/12/64).

Após a I e a II Guerras

Mundiais, a mídia usava

o termo assim: “A guerra

produziu incapacitados”,

“Os incapacitados agora

exigem reabilitação

física”.

 

os incapacitados”. O termo

significava, de início,

“indivíduos sem capacidade” e,

mais tarde, evoluiu e passou a

significar “indivíduos com

capacidade residual”. Durante

várias décadas, era comum o

uso deste termo para designar

pessoas com deficiência de

qualquer idade. Uma variação

foi o termo “os incapazes”, que

significava “indivíduos que não

são capazes” de fazer algumas

coisas por causa da deficiência

que tinham.

Foi um avanço da sociedade

reconhecer que a pessoa

com deficiência poderia ter

capacidade residual, mesmo

que reduzida.

Mas, ao mesmo tempo,

considerava-se que a

deficiência, qualquer que

fosse o tipo, eliminava ou

reduzia a capacidade da

pessoa em todos os

aspectos: físico, psicológico,

social, profissional etc.

De +- 1960 até +-

1980.

 

Crianças defeituosas na

Grã-Bretanha tem

educação especial”

(Shopping News,

31/8/65).

No final da década de

50, foi fundada a

Associação de

Assistência à Criança

Defeituosa – AACD (hoje

 

os defeituosos”. O termo

significava “indivíduos com

deformidade” (principalmente

física).

“os deficientes”. Este termo

significava “indivíduos com

deficiência” física, mental,

auditiva, visual ou múltipla, que

os levava a executar as funções

básicas de vida (andar, sentarse,

correr, escrever, tomar

banho etc.) de uma forma

diferente daquela como as

pessoas sem deficiência faziam.

A sociedade passou a utilizar

estes três termos, que

focalizam as deficiências em

si sem reforçarem o que as

pessoas não conseguiam

fazer como a maioria.

Simultaneamente, difundiase

o movimento em defesa

dos direitos das pessoas

superdotadas (expressão

substituída por “pessoas

com altas habilidades” ou

“pessoas com indícios de

altas habilidades”). O

denominada Associação

de Assistência à Criança

Deficiente).

Na década de 50

surgiram as primeiras

unidades da Associação

de Pais e Amigos dos

Excepcionais - Apae.

E isto começou a ser aceito pela

sociedade.

“os excepcionais”. O termo

significava “indivíduos com

deficiência mental”.

movimento mostrou que o

termo “os excepcionais” não

poderia referir-se

exclusivamente aos que

tinham deficiência mental,

pois as pessoas com

superdotação também são

excepcionais por estarem na

outra ponta da curva da

inteligência humana.

De 1981 até +- 1987

 

 

.

Por pressão das

organizações de pessoas

com deficiência, a ONU

deu o nome de “Ano

Internacional das

Pessoas Deficientes” ao

ano de 1981.

E o mundo achou difícil

começar a dizer ou

escrever “pessoas

deficientes”. O impacto

desta terminologia foi

profundo e ajudou a

melhorar a imagem

destas pessoas.

 

pessoas deficientes”. Pela

primeira vez em todo o mundo,

o substantivo “deficientes”

(como em “os deficientes”)

passou a ser utilizado como

adjetivo, sendo-lhe

acrescentado o substantivo

“pessoas”.

A partir de 1981, nunca mais se

utilizou a palavra “indivíduos”

para se referir às pessoas com

deficiência.

Foi atribuído o valor

“pessoas” àqueles que

tinham deficiência,

igualando-os em direitos e

dignidade à maioria dos

membros de qualquer

sociedade ou país.

A Organização Mundial de

Saúde (OMS) lançou em

1980 a Classificação

Internacional de

Impedimentos, Deficiências

e Incapacidades, mostrando

que estas três dimensões

existem simultaneamente

em cada pessoa com

deficiência.

De +- 1988 até +-

1993.

Alguns líderes de

organizações de pessoas

com deficiência

contestaram o termo

“pessoa deficiente”

alegando que ele

sinaliza que a pessoa

inteira é deficiente, o

"

 

pessoas portadoras de

deficiência

 

 

”. Termo que,

utilizado somente em países de

língua portuguesa, foi proposto

para substituir o termo “pessoas

deficientes”.

Pela lei do menor esforço, logo

reduziram este termo para

“portadores de deficiência”.

O “portar uma deficiência”

passou a ser um valor

agregado à pessoa. A

deficiência passou a ser um

detalhe da pessoa. O termo

foi adotado nas

Constituições federal e

estaduais e em todas as leis

e políticas pertinentes ao

campo das deficiências.

Conselhos, coordenadorias e

que era inaceitável para

eles.

associações passaram a

incluir o termo em seus

nomes oficiais.

De +- 1990 até hoje

 

 

.

O art. 5º da Resolução

CNE/CEB nº 2, de

11/9/01, explica que as

necessidades especiais

decorrem de três

situações, uma das

quais envolvendo

dificuldades vinculadas

a deficiências e

dificuldades nãovinculadas

a uma causa

orgânica.

 

pessoas com necessidades

especiais

 

 

”. O termo surgiu

primeiramente para substituir

“deficiência” por “necessidades

especiais”. daí a expressão

“portadores de necessidades

especiais”. Depois, esse termo

passou a ter significado próprio

sem substituir o nome “pessoas

com deficiência”.

De início, “necessidades

especiais” representava

apenas um novo termo.

Depois, com a vigência da

Resolução nº 2,

“necessidades especiais”

passou a ser um valor

agregado tanto à pessoa

com deficiência quanto a

outras pessoas.

Mesma época acima.

Surgiram expressões

como “crianças

especiais”, “alunos

especiais”, “pacientes

especiais” e assim por

diante numa tentativa

de amenizar a

contundência da palavra

“deficientes”.

 

pessoas especiais”. O termo

apareceu como uma forma

reduzida da expressão “pessoas

com necessidades especiais”,

constituindo um eufemismo

dificilmente aceitável para

designar um segmento

populacional.

O adjetivo “especiais”

permanece como uma

simples palavra, sem

agregar valor diferenciado

às pessoas com deficiência.

O “especial” não é

qualificativo exclusivo das

pessoas que têm deficiência,

pois ele se aplica a qualquer

pessoa.

Em junho de 1994.

A Declaração de

Salamanca preconiza a

educação inclusiva para

todos, tenham ou não

uma deficiência.

 

pessoas com deficiência” e

pessoas sem deficiência,

quando tiverem necessidades

educacionais especiais e se

encontrarem segregadas, têm o

direito de fazer parte das

escolas inclusivas e da

sociedade inclusiva.

O valor agregado às pessoas

é o de elas fazerem parte do

grande segmento dos

excluídos que, com o seu

poder pessoal, exigem sua

inclusão em todos os

aspectos da vida da

sociedade. Trata-se do

empoderamento.

Em maio de 2002

 

 

. portadores de direitos Não há valor a ser agregado

O Frei Betto escreveu no

jornal O Estado de

S.Paulo um artigo em

que propõe o termo

“portadores de direitos

especiais” e a sigla

PODE.

Alega o proponente que

o substantivo

“deficientes” e o

adjetivo “deficientes”

encerram o significado

de falha ou imperfeição

enquanto que a sigla

PODE exprime

capacidade.

O artigo, ou parte dele,

foi reproduzido em

revistas especializadas

em assuntos de

deficiência.

especiais

 

 

”. O termo e a sigla

apresentam problemas que

inviabilizam a sua adoção em

substituição a qualquer outro

termo para designar pessoas

que têm deficiência. O termo

“portadores” já vem sendo

questionado por sua alusão a

“carregadores”, pessoas que

“portam” (levam) uma

deficiência. O termo “direitos

especiais” é contraditório

porque as pessoas com

deficiência exigem equiparação

de direitos e não direitos

especiais. E mesmo que

defendessem direitos especiais,

o nome “portadores de direitos

especiais” não poderia ser

exclusivo das pessoas com

deficiência, pois qualquer outro

grupo vulnerável pode

reivindicar direitos especiais.

com a adoção deste termo,

por motivos expostos na

coluna ao lado e nesta.

A sigla PODE, apesar de

lembrar “capacidade”,

apresenta problemas de uso:

1) Imaginem a mídia e

outros autores escrevendo

ou falando assim: “Os Podes

de Osasco terão audiência

com o Prefeito...”, “A Pode

Maria de Souza manifestouse

a favor ...”, “A sugestão

de José Maurício, que é um

Pode, pode ser aprovada

hoje ...”

2) Pelas normas brasileiras

de ortografia, a sigla PODE

precisa ser grafada

“Pode”.

Norma: Toda sigla com

mais de 3 letras,

pronunciada como uma

palavra, deve ser grafada

em caixa baixa com exceção

da letra inicial.

De +- 1990 até hoje e

além.

A década de 90 e a

primeira década do

século 21 e do Terceiro

Milênio estão sendo

marcadas por eventos

mundiais, liderados por

organizações de pessoas

com deficiência.

 

pessoas com deficiência

passa a ser o termo preferido

por um número cada vez maior

de adeptos, boa parte dos quais

é constituída por pessoas com

deficiência que, no maior

evento (“Encontrão”) das

organizações de pessoas com

deficiência, realizado no Recife

em 2000, conclamaram o

público a adotar este termo.

Elas esclareceram que não são

Os valores agregados às

pessoas com deficiência são:

1) o do empoderamento

[uso do poder pessoal para

fazer escolhas, tomar

decisões e assumir o

controle da situação de cada

um] e

2) o da responsabilidade de

A relação de

documentos produzidos

nesses eventos pode ser

vista no final deste

artigo.

“portadoras de deficiência” e

que não querem ser chamadas

com tal nome.

contribuir com seus talentos

para mudar a sociedade

rumo à inclusão de todas as

pessoas, com ou sem

deficiência.

Os movimentos mundiais de pessoas com deficiência, incluindo os do Brasil,

estão debatendo o nome pelo qual elas desejam ser chamadas. Mundialmente,

já fecharam a questão: querem ser chamadas de “pessoas com deficiência” em

todos os idiomas. E esse termo faz parte do texto da Convenção Internacional

para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com

Deficiência, a ser aprovada pela Assembléia Geral da ONU em 2004 e a ser

promulgada posteriormente através de lei nacional de todos os Países-

Membros.

Eis os princípios básicos para os movimentos terem chegado ao nome “pessoas

com deficiência”:

1.Não esconder ou camuflar a deficiência;

2.Não aceitar o consolo da falsa idéia de que todo mundo tem deficiência;

3.Mostrar com dignidade a realidade da deficiência;

4.Valorizar as diferenças e necessidades decorrentes da deficiência;

5.Combater neologismos que tentam diluir as diferenças, tais como “pessoas

com capacidades especiais”, “pessoas com eficiências diferentes”, “pessoas

com habilidades diferenciadas”, “pessoas dEficientes”, “pessoas especiais”, “é

desnecessário discutir a questão das deficiências porque todos nós somos

imperfeitos”, “não se preocupem, agiremos como avestruzes com a cabeça

dentro da areia” (i.é, “aceitaremos vocês sem olhar para as suas deficiências”);

6.Defender a igualdade entre as pessoas com deficiência e as demais pessoas

em termos de direitos e dignidade, o que exige a equiparação de

oportunidades para pessoas com deficiência atendendo às diferenças

individuais e necessidades especiais, que não devem ser ignoradas;

7.Identificar nas diferenças todos os direitos que lhes são pertinentes e a partir

daí encontrar medidas específicas para o Estado e a sociedade diminuírem ou

eliminarem as “restrições de participação” (dificuldades ou incapacidades

causadas pelos ambientes humano e físico contra as pessoas com deficiência).

Conclusão:

A tendência é no sentido de parar de dizer ou escrever a palavra “portadora”

(como substantivo e como adjetivo). A condição de ter uma deficiência faz

parte da pessoa e esta pessoa não porta sua deficiência. Ela tem uma

deficiência. Tanto o verbo “portar” como o substantivo ou o adjetivo

“portadora” não se aplicam a uma condição inata ou adquirida que faz parte da

pessoa. Por exemplo, não dizemos e nem escrevemos que uma certa pessoa é

portadora de olhos verdes ou pele morena.

Uma pessoa só porta algo que ela possa não portar, deliberada ou

casualmente. Por exemplo, uma pessoa pode portar um guarda-chuva se

houver necessidade e deixá-lo em algum lugar por esquecimento ou por assim

decidir. Não se pode fazer isto com uma deficiência, é claro.

A quase totalidade dos documentos, a seguir mencionados, foi escrita e

aprovada por organizações de pessoas com deficiência que, no atual debate

sobre a Convenção da ONU a ser aprovada em 2003, estão chegando ao

consenso quanto a adotar a expressão “pessoas com deficiência” em todas as

suas manifestações orais ou escritas.

Documentos do Sistema ONU

1990 - Declaração Mundial sobre Educação para Todos / Unesco.

1993 - Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para Pessoas com

Deficiência / ONU.

1993 - Inclusão Plena e Positiva de Pessoas com Deficiência em Todos os

Aspectos da Sociedade / ONU.

1994 - Declaração de Salamanca e Linhas de Ação sobre Educação para

Necessidades Especiais / Unesco.

1999 - Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (Convenção da

Guatemala) / OEA.

2001 - Classificação Internacional de Funcionalidade, Deficiência e Saúde

(CIF) / OMS, que substituiu a Classificação Internacional de Impedimentos,

Deficiências e Incapacidades / OMS, de 1980.

2003 - Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e

Dignidade das Pessoas com Deficiência / ONU.

Documentos de outros organismos mundiais

1992 - Declaração de Vancouver.

1993 - Declaração de Santiago.

1993 - Declaração de Maastricht.

1993 - Declaração de Manágua.

1999 - Carta para o Terceiro Milênio.

1999 - Declaração de Washington.

2000 - Declaração de Pequim.

2000 - Declaração de Manchester sobre Educação Inclusiva.

2002 - Declaração Internacional de Montreal sobre Inclusão.

2002 - Declaração de Madri.

2002 - Declaração de Sapporo.

2002 - Declaração de Caracas.

2003 – Declaração de Kochi.

2003 – Declaração de Quito.